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Quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2025
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Pessoas desconhecem riscos ao escanear a íris, alertam especialistas

Pessoas atendem a anúncio, baixam aplicativo em casa, agendaram horário e esperam a vez de ter a íris escaneada em troca de criptomoedas, na Avenida Paulista.

Quentuchas Notícias
Por Quentuchas Notícias
Pessoas desconhecem riscos ao escanear a íris, alertam especialistas
© Paulo Pinto/Agência Brasil
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Uma discreta entrada na região da Avenida Paulista atrai pessoas com celulares em mãos, que chegam aos poucos. Elas agendaram um horário e baixaram um aplicativo previamente. Agora, esperam para ter suas íris escaneadas em troca de criptomoedas. Embora muitos participantes não saibam o verdadeiro propósito do processo, a motivação principal é o dinheiro.

Bruno Barbosa Souza, motoboy de 25 anos, explicou que foi atraído por um amigo que mencionou um pagamento de cerca de R$ 400 pelo escaneamento ocular. “Não sei exatamente para que serve, mas meu colega recebeu esse valor”, relatou. Ele descreveu o procedimento como simples: é necessário apenas preencher os dados no aplicativo e agendar um horário. “Meu amigo disse que o pagamento é em bitcoin. Fiz hoje e o dinheiro deve cair amanhã”, acrescentou.

O atendente Wallace Weslley, de 31 anos, também participou motivado pelo dinheiro. Ele realizou o processo há algumas semanas e agora levou a esposa para participar. “Eles coletam informações através da íris. Fiz há 15 dias e recebi em torno de R$ 200”, afirmou. Apesar do pagamento rápido, Wallace expressou preocupação com a segurança dos dados.

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O casal Jurema Peres Panzetti, de 72 anos, e José Virgílio, de 73, também participou do projeto. Segundo eles, o pagamento é feito em worldcoins, liberando 20 moedas em 48 horas e o restante ao longo de um ano. Antes do escaneamento, um vídeo explicativo é apresentado, e a empresa garante que os dados são criptografados e não armazenados. José reforçou: “Você tem que confiar”.

No entanto, outras pessoas afirmaram que não receberam qualquer informação sobre o projeto na ocasião em que participaram, revelando que a falta de transparência alimenta incertezas sobre o real uso dos dados.

O local na Rua Carlos Sampaio é um dos vários pontos de escaneamento na capital paulista, frequentemente formando longas filas de pessoas em busca de pagamento.

De acordo com Nathan Paschoalini, pesquisador de governança e regulação de dados, mais de um milhão de pessoas baixaram o aplicativo, e 400 mil delas já realizaram a verificação da humanidade no Brasil. “A íris, assim como impressões digitais, é única e altamente precisa”, explicou.

A iniciativa por trás do projeto é da Tools for Humanity, que desenvolve o World ID, um sistema que utiliza padrões de íris para gerar um código de validação à prova de reprodução por inteligência artificial. A empresa também produz a câmera Orb, projetada para diferenciar humanos de máquinas.

Porém, especialistas alertam para riscos. Karen Borges, do NIC.br, destacou preocupações sobre o uso de dados biométricos: “Esses dados podem ser combinados com algoritmos para fins abusivos. É essencial que autoridades monitorem iniciativas como esta”.

Embora a empresa negue que os pagamentos sejam pela coleta de dados, afirmando ser um incentivo à adoção do protocolo, Paschoalini ressalta que o consentimento obtido deve ser qualificado e livre. “A compensação financeira pode comprometer a voluntariedade”.

O consentimento previsto pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exige que os titulares sejam plenamente informados sobre o uso de seus dados. Transparência e segurança são cruciais para evitar violações de privacidade e discriminação.

Em nota, a World Foundation declarou que “novas tecnologias frequentemente suscitam questões” e reafirmou sua conformidade com leis de proteção de dados. Borges conclui que os participantes devem ler atentamente os termos de consentimento e considerar a real necessidade da coleta de dados para sua finalidade declarada.

FONTE/CRÉDITOS: Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil