A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (6), uma operação contra um esquema de contrabando e desvio de mercadorias envolvendo servidores da Receita Federal e empresários no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os suspeitos, acusados dos crimes de peculato, facilitação ao contrabando, lavagem de dinheiro e organização criminosa, teriam causado um prejuízo estimado em R$ 150 milhões.
Prisões e mandados cumpridos
Até o momento, 10 pessoas foram presas, incluindo um auditor fiscal da Receita Federal, três analistas tributários, um outro servidor da Receita, quatro empresários e um policial militar (PM). As prisões ocorreram nas cidades de Santa Maria, Pelotas e Chapecó (SC), e as identidades dos envolvidos ainda não foram divulgadas. As ordens judiciais estão sendo cumpridas em diferentes municípios, como Lajeado, Braga, Santo Augusto (RS), e Chapecó (SC), com a execução de nove mandados de prisão preventiva, 15 mandados de busca e apreensão, além de 12 medidas cautelares.
A operação também resultou no sequestro de 22 imóveis, 24 veículos e no bloqueio de contas bancárias dos investigados, com um montante de aproximadamente R$ 37 milhões.
Mercadorias desviadas
Entre as mercadorias apreendidas e desviadas estavam itens de alto valor, como garrafas de vinho, eletrônicos, perfumes, joias, relógios e até armas de fogo. A PF revelou que um dos servidores investigados comprou 10 imóveis com o dinheiro obtido no esquema, incluindo uma cobertura à beira-mar no Nordeste, avaliada em mais de R$ 10 milhões, além de veículos de luxo.
O esquema de desvio de mercadorias
De acordo com as investigações, o grupo de servidores públicos da Receita Federal usava seus cargos para desviar mercadorias apreendidas durante ações de fiscalização. A investigação começou no final de 2023, quando a Receita Federal percebeu uma discrepância entre o número de operações realizadas e a quantidade de produtos apreendidos.
Christiano Paes Leme, auditor-fiscal da Corregedoria da Receita Federal, explicou que os servidores fraudavam os registros de apreensão, de modo que apenas uma parte das mercadorias era registrada no sistema e encaminhada ao depósito da Receita. "Não estamos falando de mercadorias de baixo valor, como bugigangas, mas de itens de alto valor, como iPhones, joias, perfumes, garrafas de whisky e vinho", destacou Leme.
A comercialização dos produtos era realizada por um grupo de empresários que, com a ajuda dos servidores públicos, revendiam as mercadorias e pagavam comissões a eles. Esses empresários têm antecedentes criminais por contrabando e descaminho e já haviam sido autuados pela própria Receita Federal.
Participação de policial militar
A PF também identificou a participação de um policial militar de Santa Catarina no esquema. Lotado no setor de inteligência, o PM auxiliava nas abordagens e no apoio à venda e destinação das mercadorias desviadas.
A operação segue em andamento, e a PF continua com os desdobramentos das investigações para identificar outros envolvidos e desarticular completamente o esquema criminoso.