Mais de um ano após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, o estado ainda enfrenta o desafio de reconstruir suas escolas e prepará-las para enfrentar eventos climáticos extremos. Segundo a secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, oito escolas e a própria sede da Secretaria de Educação ainda não retornaram aos prédios originais, danificados pelas cheias.
Raquel destaca que o esforço vai além da reconstrução física. O foco agora está em preparar toda a comunidade escolar — professores, alunos e famílias — para lidar com situações como tempestades, alagamentos e eventos extremos que vêm se tornando mais frequentes na região.
“O que importa é que as escolas estejam preparadas emocionalmente, mentalmente e cientificamente. O Japão aprendeu a conviver com tsunamis, a Califórnia com terremotos, a Itália com vulcões — e o Rio Grande do Sul está aprendendo a conviver com suas características climáticas”, afirmou a secretária durante o II Fórum Internacional de Sustentabilidade e Educação, realizado em Brasília nesta terça-feira (21).
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Diagnóstico e planos de contingência
Em parceria com o Banco Mundial, foi feito um mapeamento que identificou 730 escolas em risco de destruição no estado. Dessas, 87 foram classificadas como altamente vulneráveis. Essas instituições já iniciaram a implementação de planos de contingência, que orientam o que fazer antes, durante e depois de emergências climáticas.
“A escola é o espaço onde a criança aprende e influencia a família e a comunidade. O plano só é eficaz se for construído com todos — porque cada escola tem uma realidade diferente, localização, estrutura, rotas de saída. Tudo precisa ser muito bem conhecido e combinado, porque o que leva ao desespero é não saber o que fazer”, afirmou Raquel.
As escolas atingidas chegaram a ficar entre sete e 52 dias sem aulas. Para a secretária, isso exige intervenções pedagógicas específicas e um modelo de ensino preparado para garantir a continuidade da aprendizagem mesmo em situações de crise.
Estruturas resilientes
Uma das inovações surgidas a partir do desastre é o Ginásio Resiliente — uma estrutura reforçada, integrada ao ambiente escolar, que pode ser usada tanto para atividades esportivas quanto como abrigo emergencial. Ele pode operar de forma independente e garantir a continuidade do ensino mesmo em momentos de calamidade.
As enchentes de 2024 foram o maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul, afetando 478 dos 497 municípios e mais de 2,4 milhões de pessoas. Foram registradas 184 mortes, 806 feridos e 25 desaparecidos.
Compartilhando experiências
A experiência gaúcha foi apresentada no evento internacional e comparada com outras regiões do mundo que enfrentam desafios semelhantes. Um exemplo é Valência, na Espanha, atingida por fortes tempestades em novembro de 2024. O arquiteto espanhol José Picó, fundador do escritório Espacios Maestros, participou da reconstrução de escolas na região, sempre com a escuta ativa da comunidade escolar.
“A água chegou a dois metros de altura dentro da escola. Perdemos tudo. Mas com absoluta resiliência, as próprias famílias participaram da transformação. Elas ajudaram a redesenhar a escola”, relatou Picó.
O arquiteto defende que os espaços escolares do futuro devem ser resilientes, sustentáveis, conectados à natureza e adaptados às necessidades de cada comunidade, em contraste com os modelos herdados da Revolução Industrial.
“É a comunidade educacional quem deve decidir como seus espaços devem ser. Eles conhecem suas necessidades. O arquiteto apenas ajuda a construir esse caminho”, afirmou.
Entre os projetos que ele apresentou, estão escolas que integram biodiversidade, agricultura urbana e energias renováveis, promovendo a sustentabilidade dentro e fora da sala de aula.
Prêmio Escolas Sustentáveis
Durante o fórum, foi anunciado o vencedor da etapa internacional do Prêmio Escolas Sustentáveis, que reconhece iniciativas socioambientais em instituições de ensino da Colômbia, Brasil e México. A vencedora foi a Institución Educativa Comercial de Envigado, da Colômbia, com o projeto Metodologia de Pesquisa Socioambiental GCA. A escola recebeu o equivalente a R$ 25 mil.
A premiação está na terceira edição e avaliou cerca de mil candidaturas. No Brasil, duas escolas foram finalistas:
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Ensino Médio: Escola Estadual Brasil, de Limeira (SP), com o projeto AquaTerraAlert, que criou um sistema de alerta precoce para inundações e deslizamentos.
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Educação Infantil e Fundamental: Creche Municipal Magdalena Arce Daou, de Manaus (AM), com o projeto IncluARTE – SustentART, que une sustentabilidade, arte e inclusão para recuperar um território degradado.
Cada uma das finalistas recebeu US$ 3 mil (cerca de R$ 16 mil) como reconhecimento pelo impacto e criatividade de seus projetos.
