A falta de bovinos prontos para o abate impulsionou a valorização das vacas na pecuária gaúcha na última semana, com aumento de 1% nas cotações, segundo levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro/UFRGS).
De acordo com os pesquisadores, a tendência é de elevação dos preços em todas as categorias nos próximos meses. Muitos produtores, pressionados por dificuldades financeiras, têm vendido animais ainda em fase de engorda para gerar recursos e custear a safra de verão 2025/26.
“O cenário é atípico. Tradicionalmente, nesta época do ano, há maior oferta de gado gordo e os preços ficam deprimidos. Mas, desta vez, a combinação de crises recentes, baixa oferta de crédito e a necessidade de capital para a agricultura levou a uma liquidação precoce de rebanhos”, explica o professor Júlio Barcellos, coordenador do NESPro.
Segundo ele, os produtores têm se desfazido principalmente de animais mais pesados, que garantem retorno financeiro rápido, além de vacas matrizes destinadas ao abate. Essa prática pode gerar impactos prolongados no ciclo produtivo, estendendo em até quatro anos o período de recuperação da pecuária.
Outro fator que pressiona a oferta é a venda de terneiros para outros estados e a exportação de gado em pé, inclusive de animais mais pesados — modalidade antes restrita a terneiros. Importadores como a Turquia têm ampliado as compras, o que contribui para a valorização em todas as faixas etárias do rebanho.
A valorização das vacas também reflete um movimento da indústria frigorífica, que passou a demandar mais carcaças femininas. “Os frigoríficos pagam em média 10% a menos pela vaca em relação ao boi, mas sem repassar esse desconto ao consumidor. Isso aumentou a procura por vacas no mercado gaúcho”, observa Barcellos.
Com os abates de matrizes em patamares elevados, a reversão do ciclo pecuário, que costuma levar cerca de mil dias, pode se estender para até 1.500 dias. A expectativa, no entanto, é que essa situação favoreça investimentos na cria e na recria, fortalecendo o setor a médio prazo.
Efeitos no mercado e no consumo
A previsão do NESPro é de que, nos próximos três meses, os preços continuem em alta, especialmente para animais destinados à recria, reprodução e cria. O boi gordo deve puxar esse movimento, entrando em curva ascendente nas próximas semanas.
No curto prazo, o consumidor poderá sentir um aumento de 3% a 5% no preço da carne. Porém, a expectativa é de que, no médio e longo prazo, a pecuária gaúcha retome equilíbrio, com ganhos de produtividade e oferta mais estável de carne no mercado interno.
“Apesar da pressão imediata no preço ao consumidor, o cenário de recuperação é importante para o produtor, que ainda lida com as perdas de crises anteriores. Essa retomada pode fortalecer toda a cadeia produtiva”, conclui Barcellos.
Fonte/Créditos: Correio do Povo
